quarta-feira, 27 de julho de 2011

Resenha A DUPLA VIDA DE VERONIQUE

As escolhas do presente senão determinam nosso futuro pelo menos o influenciam de forma direta, o que falar de nosso presente atual? Quais foram as escolhas que fizemos num passado recente que desembocaram nossas vidas particulares e coletivas nesse presente continuo de relações densas e tensas?
Como uma corda de um instrumento qualquer distendida entre dois pontos de tensão, onde os dedos do músico e as notas a serem tocadas, já estão previamente elaboradas e escolhidas por esse músico, desdobrando assim esses primeiros dois pontos de tensão em outros tantos mais, surgindo assim a musica tocada, como se fosse uma coisa natural aos ouvidos de quem ouve e não fruto das escolhas desse músico.
Quais as condições nos impulsionaram as escolhas que fizemos em nosso breve passado e que permeiam nosso presente atualizado, e quais escolhas faremos que nortearão nosso futuro? Eis o ponto onde os dedos do músico encontram a corda do instrumento, a esse encontro de determinadas situações cotidianas e a possibilidade da escolha por essa e por aquela nota chamamos LIBERDADE?
Krzysztof Kieslowski cineasta polonês tem sua carreira marcada por essas tensões na qual a liberdade da escolha e as escolhas como opção a serem feitas nos são colocadas em sua obra, assim como as historias das vidas comuns que aparentemente nada tem entre si, mas se cruzam e se chocam impulsionando as escolhas feitas por suas belíssimas personagens. Dentre seus filmes vale à pena citar aqui a série de filmes chamada DECÁLOGO, onde o diretor utiliza-se da metáfora dos mandamentos de deus para tratar e nos colocar problemas morais frente as escolhas de suas personagens, assim como a série de três filmes que leva o nome de TRILOGIA DAS CORES e que marca sua fase “francesa”: AZUL (A Liberdade é Azul), BRANCO (A Igualdade é Branca) e VERMELHO ( A Fraternidade é Vermelha).
Bem como o filme sobre o qual discorre o texto: A DUPLA VIDA DE VERONIQUE; e que marca a fase de transição do cineasta em seu itinerário Polônia-França, tensão implícita colocada no mesmo filme na metáfora das duas Véroniques: Verônica (Polônia) e Véronique (França).
O filme nos mostra duas garotas músicas, as duas cantoras líricas que tem suas vidas traçadas por coisas parecidas, senão idênticas, mas que se separam pelas escolhas feitas por ambas, a Verônica polonesa que mesmo sentindo sua saúde fragilizada decide não dar importância a mesma para se entregar de corpo e alma a seu sonho de cantar no coral de orquestra, fazendo assim parte de seu coro.
Sonho e poder de escolha que determinarão o seu breve futuro, no qual ela encontrará a morte numa apresentação, a morte não como um desconhecido que vem como ladrão se esgueirando na penumbra de atos ilícitos, mas a morte como conseqüência de suas próprias escolhas. E Véronique a francesa que tem os mesmos impulsos objetivos para se escolher a mesma coisa, mas que decide abandonar sua “vocação” para cuidar de sua saúde e trabalhar como professora de música numa escola infantil e que por sua escolha não encontra a morte como a polonesa Verônica.
Os mesmos impulsos exteriores clamando uma ou a outra possibilidade de escolha a ser feita, a liberdade executada como opção realizada pelos atos e não por uma escolha propriamente racional, as conseqüências que emanam dessas escolhas
posicionais, dos atos de quem faz suas opções no cotidiano, dos impulsos e de como se elabora e orienta as escolhas através desse impulso, a escolha, o ato e seus desdobramentos, indicam uma tendência como conseqüência ou podem mudar a tendência se a escolha for outra, como podemos observar na vida das duas Véroniques.
A polonesa encontra a morte advinda da escolha de se entregar a seu sonho e não cuidar de sua saúde e o seu contrário expresso pelo destino da francesa como conseqüência dos seus atos, “então a vida”, a TENSÃO DE VIDA/MORTE, MORTE/VIDA como os dois maiores focos de tensões da existência comum dos seres humanos e que diante a tantas escolhas diferentes nos iguala, podemos chamar essas tensões de EROS E THANATOS, ora impulso a um, ora impulso a outro e de onde ninguém sai ileso.

By Horácio

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