O filme de Jodorowsky, “El Topo”, partiu da premissa de que seria uma viagem espiritual em busca da transcendência. É importante ressaltar que em ambos os filmes o que está em jogo é uma revolução em termos de indivíduo, bem longe de ser um panfleto com o objetivo de transformação social. Com “El Topo”, ele fez uma paródia ao western norte-americano e foi responsável pelo nascimento de um novo conceito em termos de marketing do filme underground, que deu impulso à formação do público “cult”.
“El Topo” começa com uma passagem repetida várias vezes por Jodorowsky: a necessidade de abolir tudo o que remete ao passado para poder avançar no seu próprio caminho. Um pistoleiro ordena ao filho nu que ele enterre na areia do deserto a fotografia da mãe e um brinquedo. Os dois seguem a uma aldeia onde acabou de ocorrer um massacre. El Topo, o pistoleiro, sai em busca dos culpados pela tragédia. Mata e castra o mandante do crime, Colonel, e executa seus comparsas.
Na aldeia, resgata uma mulher e resolve abandonar o filho e fugir com ela. Ao deixar a vila, proclama que é Deus e goza do seu poder fazendo milagres no deserto, como prover alimento para seu sustento e criar fontes de água. Como prova de seu amor pela garota, promete-lhe matar os quatro grandes mestres do deserto e assim se tornar o maior pistoleiro do local.
Jodorowsky resumiu o filme como “a história de um homem em busca da espiritualidade, em busca da paz”. A verdade é que várias cenas têm uma relação direta com a própria vida do diretor, cuja ligação com o pai sempre foi bastante melindrosa. “Certo dia, eu era uma criança de seis anos e fui com meu pai à praia. O carro quebrou e meu pai teve de me carregar por uns quatro quilômetros até o mar. Acho que esse foi o único contato de pele que tive com ele”, diz, em entrevista no documentário que acompanha a coleção.
“El Topo” estreou sem alarde nos EUA no dia 18 de dezembro de 1970, numa sessão programada para a uma da madrugada, no teatro The Elgin. E só conseguiu ser exibido graças aos esforços do distribuidor Ben Barenholtz.
Um fato inusitado, porém, garantiu a sua repercussão imediata. John Lennon e sua esposa Yoko Ono assistiram ao filme e ficaram fascinados com o que viram. O músico ajudou a divulgá-lo entre os críticos e fãs, além de entrar em contato com seu manager a fim de apoiar Jodorowsky no seu próximo projeto.
Com tamanha credibilidade, e difundido pelos cantos no boca-a-boca, “El Topo” conseguiu uma expressiva bilheteria e ficou marcado como o primeiro “midnight movie”, expressão usada pelos americanos para classificar filmes de baixo orçamento e de “conteúdo proibido” que eram encaixados nos últimos horários dos cinemas.
“O êxito de ‘El Topo’ mudou para sempre a maneira como filmes underground eram promovidos: o fenômeno ‘midnight movie’ tinha nascido. Jovens cineastas como John Waters e David Lynch ficariam famosos aproveitando a onda. Foi propagada uma cultura de projeção que privilegiou filmes marginais, como o gângster ‘The Harder They Come’, além de renovar o interesse em autores negligenciados, como Tod Browning (‘Freaks’) e Ed Wood (‘Glen or Glenda?’)”, analisa Ben Cobb, autor do livro “Anarchy and Alchemy: The Films of Alejandro Jodorowsky”.
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