Com 76 anos, o diretor grego Theo Angelopoulos, autor de filmes  notáveis como Paisagem na Neblina e O Passo Suspenso da Cegonha, morreu  em consequência de um atropelamento. O cineasta foi atingido por uma  moto, e, levado ao hospital com hemorragia cerebral, não resistiu aos  ferimentos. O dado que torna a notícia ainda mais  pungente é que  Angelopoulos foi vitimado enquanto rodava um filme sobre a grave crise  econômica que se abate sobre o seu país.
 Apaga-se assim a vida de um dos mais importantes cineastas  contemporâneos, um dos poucos artistas verdadeiros dessa arte comercial,  tão banalizada pela indústria do entretenimento.
 Angelopoulos chegou a ganhar a Palma de Ouro em Cannes em 1998 por  seu A Eternidade e um Dia. Realizou cerca de 15 longas-metragens e  vários curtas, obra relativamente sintética porém muito marcante. Os  principais são A Viagem dos Comediantes; Paisagem na Neblina, de 1988;  Um Olhar a Cada Dia, de 1995; Viagem a Citera, de 1984; O Passo Suspenso  da Cegonha, de 1991 e a Trilogia – O Vale dos Lamentos.
 Angelopoulos nasceu em Atenas em 1935 e fez estudos de Direito antes  de aprender cinema na França, no célebre IDHEC (Institute des Hautes  Études Cinématographiques). De volta à Grécia, tornou-se crítico de  cinema e, em seguida, realizador. Influenciado pelas ideias de Bertolt  Brecht, planejou compor um grande afresco histórico do seu país, dos  anos 1930 (Dias de 36, evocando a morte de um líder sindical) aos tempos  mais contemporâneos, com Os Caçadores (sobre a burguesia) e Os Atores  Ambulantes.
 Em sua trajetória, Angelopoulos foi infletindo ligeiramente o ângulo  do seu interesse. Dos primeiros filmes abertamente políticos, e  testemunhos de uma época de turbulência, passou a um enfoque mais  pessoal, mas no qual a História ocupava um lugar importante no quadro de  referência. A fase final refletia uma busca mais madura e espiritual.  Mas o filme que rodava quando a fatalidade o colheu, mostra que sua  preocupação com o real, com a dramaticidade do real, continuava intacta.  Em sua mais grave crise da era moderna, a Grécia perde assim esse olhar  lúcido de seu artista maior.
 Sua estética, baseada em planos longos e movimentos de câmera suave,  não contribuíram para que se tornasse particularmente popular. No  entanto, Angelopoulos foi sempre muito bem agraciado pela crítica. E  pelos festivais de cinema, em especial os mais importantes entre eles.
 Alexandre, o Grande venceu o Leão de Ouro do Festival de Veneza. O  mesmo festival lhe deu o Leão de Prata por Paisagem na Neblina, uma  obra-prima. Com Um Olhar a Cada Dia, venceu o Prêmio Especial do Júri em  Cannes, o mesmo festival que, no ano seguinte, lhe daria seu prêmio  máximo, a Palma de Ouro por A Eternidade e um Dia.
 Angelopoulos esteve no Brasil em 2009, homenageado pela Mostra de São  Paulo em sua 33ª edição. Antes, a Mostra havia realizado uma  retrospectiva de seus filmes, até então pouco divulgados entre nós.  Nesse ano apresentou aqui seu A Poeira do Tempo, seu último  longa-metragem concluído.
 Em sua visita a São Paulo, filmou no Metrô o episódio Céu Inferior,  do longa O Mundo Invisível, ainda inédito comercialmente, apresentado na  Mostra de Cinema do ano passado.By Luís Zanin (http://blogs.estadao.com.br)

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