Um espaço para os cinéfilos

Cine Café inicia hoje sua terceira temporada; em dois anos de atuação, projeto leva uma média de 60 pessoas a cada sessão

Com novidades, o projeto Cine Café, uma parceria do Sesc Sorocaba com curadoria de Marcelo Domingues, abre hoje sua terceira temporada com o polêmico filme "If...", de Lindsay Anderson, a partir das 19h, na Oficina Cultural Grande Otelo. De acordo com Domingues, em 2012 serão priorizados os ciclos temáticos, além da participação de diretores para conversar com o público. "A gente traz alguns diretores para cá e a maioria são nacionais, estamos pensando em trazer também alguns nomes estrangeiros, mas não há nada certo", adianta Domingues.
Para o curador, o Cine Café, que acontece todas as sextas-feiras, gratuitamente, "foi uma das coisas mais legais em cineclube que aconteceu nos últimos anos em Sorocaba, depois do Cine Senac, que foi muito importante." E classifica a experiência desses dois anos de projeto, iniciado em 2010, como positiva e frisa a importância do formato, que ajudou a impulsionar rapidamente o total de público participante, uma média de 60 pessoas por sessão.
Por formato entenda-se a opção em focar títulos de filmes chamados alternativos, ou seja, que não possuem muita envergadura comercial. Para tanto, no início utilizaram o rico acervo do próprio Sesc, que além de clássicos, comerciais e infantis, conta com muitos títulos de filmes de arte. Quando esse acervo começou a se esgotar, a alternativa foi contatar uma das mais importantes distribuidoras de filmes de arte no brasil, a maranhense Lume.
Mais do que a oportunidade de conhecer os filmes, outro ponto importante do projeto é a discussão que ocorre logo após a apresentação dos filmes; seja com o próprio Domingues, ou mesmo com diretores convidados. "Não é só jogar o filme, mas fazer com que as pessoas tenham um panorama muito maior. As pessoas participam do debate e o filme acaba crescendo muito na cabeça delas. Tem gente que diz que até já tinha assistido ao filme, mas que acabou sendo diferente. O local acaba se tornando um ponto de encontro, onde as pessoas vão para conversar, falar de cinema", conta Domingues.
 
Sobre o filme de hoje
E é com uma produção polêmica que o projeto retoma hoje, apresentando o filme "If...." de Lindsay Anderson. O filme, concebido na efervescência dos anos 60, mas precisamente em 1968, serve como um espelho das transformações dessa época, marcada pela revolução dos costumes, conflitos de gerações, liberação sexual, nova estética da arte, entre outras. O filme, que foi o grande vencedor do festival de Cannes em 69, trata do levante estudantil numa escola privada no Reino Unido, de ambiente enclausurado e rígido. Um grupo de alunos, liderados por Travis (personagem vivido de maneira brilhante por Malcolm Macdowell em sua primeira atuação no cinema), contestam o sistema de ensino que promove a manutenção dos valores morais, perpetuação da ordem e da tradição de mais de 500 anos baseada na classe burguesa.
O resultado desse embate é levado ao extremo pelos alunos e o filme nos surpreende com um final corajoso e impressionante. Graças a sua interpretação neste filme, o jovem ator Malcolm Macdowell foi chamado por Stanley Kubrick para protagonizar nada menos que "Laranja Mecânica", dois anos depois, compondo um personagem que guarda semelhanças com o do seu primeiro trabalho e que o consolidaria como grande ator de sua geração.

O Cine Café acontece hoje, às 19h, na Oficina Cultural "Grande Otelo", que fica na praça Frei Baraúna, s/nº. Antes de "If" será exibido o curta-metragem francês "L"homme Sans Tetê". A entrada é franca.

By Maíra Fernandes

Notícia publicada na edição de 13/01/2012 do Jornal Cruzeiro do Sul, na página 1 do caderno C