sábado, 13 de agosto de 2011

Festival de Cinema de Gramado valoriza cinema autoral

O tapete vermelho em frente ao Palácio dos Festivais continua recebendo celebridades da TV, na busca do glamour que marca as duas últimas décadas do tradicional Festival de Cinema de Gramado. Já a programação de filmes segue sentido oposto, afastando-se cada vez mais das superproduções em direção a obras mais autorais.
 
Essa inclinação ficou clara na abertura da 39ª edição, na noite de sexta-feira (5), quando a Serra Gaúcha recebeu dois longas-metragens que tratam de pequenos conflitos de pessoas comuns que transformam suas vidas. Esperança - o nome do circo presente no segundo filme de Selton Mello como diretor, “O Palhaço”, apresentado fora de competição - resume bem o clima que pautou a primeira noite, completada por “Riscado”, de Gustavo Pizzi. 
Palavra meio desgastada diante da onda realista que tomou o cinema brasileiro recentemente, em que o humor e os dramas edificantes só ganharam terreno nas bilheterias, mas estiveram longe de arranhar a face de produções que ultrapassaram fronteiras com uma abordagem dura da realidade social, como “Cidade de Deus” e “Tropa de Elite”.
Como a piscadela que o palhaço Pangaré (Selton Mello) dá ao entrar no picadeiro, “Riscado” e “O Palhaço” representam uma espécie de intervalo ou refresco, como se afirmassem que é hora de olhar um pouco para dentro de nós mesmos, em histórias que falam mais do indivíduo e menos do coletivo.
Assim encontramos dois protagonistas que vivem a expectativa de mudança em suas vidas: um palhaço em crise de identidade e uma atriz (Karina Teles) que vê a grande chance bater à sua porta quando é convidada para estrelar um filme sobre a sua sofrida trajetória para se impor na profissão.
Tanto “O Palhaço” como “Riscado” enveredam pela representação, no palco (no picadeiro) e por trás dos personagens. Algumas das cenas mais marcantes dos dois filmes mostram os protagonistas se desfazendo de suas máscaras. A narrativa de “O Palhaço” acompanha um gradativo afastamento de Benjamim-Pangaré do mundo circense.
Já Bianca é constantemente flagrada no pós-espetáculo, desfazendo-se da pele de Marilyn Monroe, minutos depois de ser confundida com uma prostituta. Eles não estão felizes e alimentam esperanças de que algo repentinamente mude o rumo de suas vidas.
Pela riqueza do seu universo, “O Palhaço” trabalha num registro mais simbólico (um ventilador é representativo da busca de Benjamim), enquanto “Riscado” busca nos conquistar pela identificação com os infortúnios de Bianca, ampliados pela trilha sonora triste e pela fotografia propositadamente descuidada.
Em ambos, o trabalho do elenco é fundamental para a construção do diálogo entre público e filme. Karina olha diretamente para a câmera, assim como o rosto de Selton enche a tela. Carregam tristezas escondidas em seus personagens, sem, no entanto, desgarrarem-se da esperança.
By Paulo Henrique Silva - Hoje em Dia 

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