segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Uma Longa Viagem, de Lúcia Murat


O longa Uma Longa Viagem, da diretora Lúcia Murat, vencedor do 39° Festival de Gramado fala da vida da própria diretora, na época em que era presa política do regime militar e um de seus irmãos, Heitor, rodava o mundo num mergulho delirante no universo das drogas.
Em entrevista coletiva realizada na manhã do dia 8, Lúcia disse encarar com naturalidade as diferentes interpretações que as pessoas possam ter de seu trabalho. “A partir do momento em que faço um filme ele não me pertence mais, pertence ao público e ele vai interpretá-lo de maneira diferentes”. Ela se refere às declarações do irmão Heitor, que levaram o público de Gramado ao riso ao longo de boa parte da projeção. “No filme você ri muito porque o Heitor tem um senso de humor fantástico, mas no final o filme vai para outro tom em que as pessoas param de rir”, avalia Lúcia.
Uma Longa Viagem é um filme pessoal, talvez pessoal demais. É como aqueles vídeos caseiros que costumam interessar somente à família retratada neles. Surgiu da dor da perda do outro irmão da diretora, Miguel, citado no filme pela narração em off de Lúcia e nas cartas que Heitor mandava da Europa. São essas cartas o fio condutor da narrativa. Elas são lidas por Caio Blat, que interpreta Heitor quando jovem.
Corajosa, Lúcia decidiu transforma seu vídeo de família em filme e compartilhar seu drama com o público. O resultado, no entanto, não consegue transmitir para o espectador a intensidade da vivência muito particular da diretora.
Os relatos interpretados por Caio Blat são comentados e por vezes desmentidos por Heitor, que tem esquizofrenia. As experiências dele envolvendo drogas e situações bizarras vividas em países obscuros são hilárias e divertem a plateia, mas essa mesma plateia talvez não consiga absorver outros elementos que a diretora julga estarem presentes no filme.
Lúcia Murat é uma cineasta experiente e dona de uma filmografia respeitável. Seu filme reúne belas imagens, ótimas músicas e a interpretação sempre eficiente de Caio Blat. Em certo sentido, trata também da busca pela liberdade do fim dos anos 60 e da repressão instalada no Brasil na mesma época, mesmo sem se aprofundar. Ver o que está além do projetado na tela fica fácil quando se está num festival de cinema e tem-se a oportunidade de participar de um debate com a autora do trabalho e saber detalhes de seu drama pessoal. Um filme, no entanto, não pode ter manual de instrução. Se precisa de explicação para ser plenamente compreendido, vira vídeo de família.
A seguir assista um trecho do filme..

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